quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

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mi cuerpo es su casa.

TEO

Eu acho que o valor da presença de Deus, de um deus está na eterna sensação de suporte,de raiz; de saber que, mesmo sendo algo que possa existir apenas dentro da gente, ele tá ali pra gente. Isso é lindo. Ele tá torcendo por nós.

Eu acho que, se Deus existe, daquela forma antropomórfica, de velhinho de barba comprida, ele é um cara interessantíssimo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

CLITORIANO

Toda vez que você me come, me faísca uma vontade de ser mulher por um instante, só pra poder engravidar de você.

PAGODE ROMÂNTICO

, mas tudo bem, eu poderia ter recebido uma notícia ainda pior, como Eu gosto da sua melhor amiga, ou Você não é sexualmente interessante, mas não, ele apenas me disse que não quer mais, que anda se sentindo fraco e despreparado, ou desestimulado, e que acha melhor que nós terminemos, que não quer ficar tomando o meu tempo, tomando meu sentimento, que poderia ser canalizado para outra pessoa ou coisa ou pro trabalho quem sabe, e que, além do desinteresse (não foi bem essa palavra que ele usou), teria também a culpa de me ‘enganar’ ou coisa que o valha e que isso o faria sentir ainda pior.
Eu tive algumas namoradas antes dele, e não que ele tenha me feito descobrir um desejo escondido dentro de mim, não é isso, eu já tinha ficado com caras, mas ele foi diferente. Como ‘diferente’? Ah, não sei. Mas ‘diferente’ é a palavra que me vem à cabeça. Acho que ele despertou em mim um interesse pelas questões menores. Via o mundo com outros olhos, sei lá. Essa instabilidade dele me atraía. Sempre tive tudo muito certo, focado, e tal. É como se alguém desse uma caneta para mim e uma para ele e nos pedisse para riscar uma linha entre dois pontos. Eu a riscaria reta, perfeita, estática. Ele faria um emaranhado de fios, embolados, confusos; provavelmente não chegaria ao ponto final. Mas a dele formaria um desenho bonito, uma imagem. A minha seria apenas uma linha reta.
Apesar de sempre sustentar uma imagem de pessoa firme, interessante, eu sabia que ele era uma pessoa frágil. Sempre rodeado de pessoas, falante, opinativo. Comigo, se permitia ser como na verdade era: inseguro, até mesmo tímido. Mudava de idéia, de vontades, não admitia que eu discordasse das opiniões dele, nem sempre tão coerentes assim.
Então, chegou um dia, no caso hoje pela manhã, logo após terminar de se vestir, em que ele me chamou, fitou meus olhos de uma maneira que eu nunca tinha visto, e disse que queria terminar comigo. É uma merda quando isso acontece, todo relacionamento que começa está fadado a acabar? Um cara disse, num filme que eu vi, que talvez seja característica do amor, assim como de tudo, ter uma data de validade, um final, e que esperar o tal ‘felizes para sempre’ seria uma enorme ingenuidade da nossa parte. Senti uma vontade enorme de chorar, eu não sou mulher disso, mas me senti perdida, me senti desamparada. Não imaginei que fosse sentir algo assim, nem ficamos tanto tempo juntos, nem temos carro casa filhos juntos, temos só o filme que a gente escreveu, que tava quase quase, falta apenas terminar de editar e pronto; imaginei a gente rodando o Brasil, colocando o filme em festivais, talvez ganhando prêmios, sendo casal 20, sendo felizes, sentindo orgulho um do outro e do filme e da equipe e disso tudo que surgiu por causa do que sentimos um pelo outro. A gente se dá tão bem.
Teve um dia em que eu e ele estávamos deitados no jardim do MAM, eu de bruços abraçada a mochila lendo um livro meio tosco que achei na casa do meu pai, uma ficção científica mais engraçada do que empolgante, e ele deitado com a cabeça apoiada na minha coluna lombar, ouvindo algo nos fones. Estava bom, teve um momento em que eu parei de prestar atenção no livro e passei a me concentrar na respiração dele, e na minha respiração, e nas nossas duas respirações entrando em equilíbrio, as duas no mesmo ritmo. Adormeci. Ele também dormia, e ficamos assim, os dois, dormindo como dois bebês, ele colado em mim e eu colada ao livro. Um cara que estava ali perto, deitado no banco, fazendo sei-lá-o-quê, nos observava. Veio lentamente em nossa direção, parou a uns cinco metros, discretamente sacou o celular e nos fotografou. Saiu, e deitou novamente no banco.
Eu acordei uns dois minutos depois, não presenciei nada. Ninguém me contou, isso pode nem ter acontecido, acho que eu estava sonhando em que vivia num daqueles filmes sobre um personagem que vive sozinho numa cidade cheia de gente, meio Miranda July, e tal.

QUANDO O GALO CANTOU


O amor é apenas isso.

Quando o Galo Cantou by Caetano Veloso on Grooveshark

SUOR


E eu, que andava sentindo falta de ser criança, voltei a viver a água espumosa e salgada, a areia, o sol, o vento. Voltei a ter corpo, pele músculos ossos, coração vagabundo.

*

Quando o galo cantou, o velho estava morto. Fui acordado por pesada notícia após a noite leve (como uma onda no mar). Tateei textura diferente (vivi longa anestesia).

*

Sinto-me eternamente desencontrado. Não encontro raiz nem par.

*



Cada vez mais, penso que viver é feito de apenas consentir. É baixar a cabeça e jamais ter razão; é engolir o choro.
Viver é implodir.