-Mãe, quanto tempo demora pra se deixar de amar alguém?
-Eu não sei, meu filho. Depende do caso. Depende de quanto tu ama essa pessoa, depende da forma que tu amou essa pessoa,
depende do tempo que tu amou essa pessoa. Depende da pessoa, depende de ti. Depende se o amor te foi arrancado, ou se te dispensou, ou se morreu,
se te trocou por outro, se preferiu ficar sozinho. Depende se a pessoa terminou pensando no teu bem, ou no bem-próprio, ou no bem-comum. Depende se foi tu
que terminou, pensando no teu bem, no bem dela, ou no bem dos dois. Depende, meu filho.
Depende.
-Eu só sei de uma coisa, Pedro. O amor não acaba. Ele apenas adormece. Ele nos caracteriza. A gente deixa de pensar na pessoa, mas continua cozinhando da forma que aprendemos com ela, continuamos lendo as história dela, continuamos a ouvir suas canções. Até hoje eu ouço teu pai me dizendo pra parar de fumar, a cada cigarro que eu acendo. Ele não gostava que eu fumasse, brigava e tudo. Eu não parei, eu gostava. Mas até hoje eu sei que ele fica contrariado quando eu
fumo. Ele não está aqui nesta casa, mas está aqui dentro, na minha consciência, na minha pessoa. Assim vai ser contigo também, Pedro. Assim foi com teu irmão, assim será com os teus filhos, com teus netos, com a pessoa que está tentando te esquecer. Eu sei que não é fácil, eu sei que tu preferiria não estar passando por isso, mas compreenda, meu filho, isso é necessário.
-É uma pena, mãe. Eu sempre pensei que fosse mais fácil ser feliz.
-Se fosse fácil, ninguém daria o devido valor.
